9.5.10

Seqüência

Os bois mugem para a grande
solidão que os agasalha.
(Os homens acham na paz
do campo a paz que apunhala.)

Os cães uivam para a lua

um uivo fino e ofegante.
(Os homens padecem a lua
e a dor em canto se expande.)

Os gatos choram na noite

como em fundo sofrimento.
(os homens padecem a noite
uma outra noite antevendo.)

As traças devoram a vida,

papirófagos sem pressa.
(os homens se dão aos livros
e a vida, como lhes pesa!)

Os ratos pelos armários

deixam apenas fragmentos.
(Os homens se dilaceram,
as próprias cinzas temendo.)

E a vida só se asserena,

se atenua, se aquieta,
quando num rosto cansado
sombra, apenas, se dispersa.

Alphonsus de Guimaraens Filho
in O Tecelão do Assombro

Nenhum comentário: