29.4.10

Marguerite Yourcenar - Memórias de Adriano - fragmentos


 Marguerite Yourcenar ou  melhor, Marguerite Antoinette, Jean, Marie, Ghislaine de Crayencourt. Escritora, poetisa, intelectual, viveu a dúvida e a mudança do alvorar do século, dividida entre países, pessoas, condições. Aristocrata de berço, libertou-se nas tabernas parisienses, mas ficou-lhe no sangue a busca da excelência e da perfeição. A paz, encontrou-a nos vagões dos comboios, onde passou dezenas de horas em viagem e onde escreveu largas parcelas dos livros. Como ela própria confessou, se pudesse escolher uma condição de vida seria, certamente, a de viajante.

* Nunca perder de vista o gráfico de uma vida humana, que se não compõe, digam o que disserem, de uma horizontal e duas perpendiculares, mas sim de três linhas sinuosas, prolongadas no infinito, incessantemente aproximadas e divergindo sem cessar - o que um homem julgou ser, o que ele quis ser e o que ele foi.

* Não existindo já os Deuses e não existindo ainda Cristo, houve, de Cícero a Marco Aurélio, um momento único em que só existiu o homem.
* Mas a mais longa dedicatória é ainda uma forma demasiado incompleta e banal de honrar uma amizade tão pouco comum.

* Cada um de nós tem mais virtudes do que os outros supõem, mas só o êxito as torna notórias, talvez porque se espera então que deixemos de as praticar.

* Quando se tiver diminuído o mais possível as servidões inúteis, evitado as desgraças desnecessárias, continuará a haver sempre, para manter vivas as virtudes heróicas do homem, a longa série de verdadeiros males, a morte, a velhice, as doenças incuráveis, o amor não correspondido, a amizade recusada ou traída, a mediocridade de uma vida menos vasta que os nossos projectos e mais enevoada que os nossos sonhos: todas as infelicidades causadas pela divina natureza das coisas.

* A fraqueza das mulheres, ..., resiste à sua condição legal: a sua força vinga-se nas pequenas coisas em que o poder que elas exercem é quase ilimitado. Raramente vi um interior de uma casa onde as mulheres não reinassem.

* A maior parte dos nossos ricos faz enormes donativos ... .
Muitos agem assim por interesse, alguns por virtude; quase todos ganham com isso.

* Natura deficit, fortuna mutatur, deus omnia cernit.
A natureza trai-nos, a sorte muda, um deus vê do alto todas estas coisas.

* ...não será a alma apenas o supremo resultado do corpo, frágil manifestação da dor e do prazer de existir?

Um livro maravilhoso, não pode faltar na sua estante.

Marguerite Yourcenar

Um comentário:

Priscila.... disse...

lindo pensamento...
obrigada por todo seu carinho!
Te gosto muito amiga...
Beijos,
E uma ótima noite!