28.4.10

Lupe Cotrim


(1933 — 1970 )   Maria José Lupe Cotrim Garaude Gianotti (Lupe é uma palavra formada pela junção das primeiras sílabas dos nomes de seus pais — Lourdes e Pedro) nasceu em São Paulo (SP), em 16 de março de 1933. Na década de 50, estuda literatura, línguas e artes. Em 1961, faz um programa de TV, que a projeta publicamente. Começa a estudar Filosofia na USP em 1963, onde conhece José Arthur Gianotti, com que viria a se casar. Em 1968, é nomeada professara de Estética da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, cujo centro acadêmico leva o seu nome. Faleceu em 18 de fevereiro de 1970. Quando faleceu, foi concedido o prêmio Governador do Estado ao seu livro Poemas ao Outro. Tem muitos admiradores, basta ver a freqüência da citação do seu soneto Saudade nas comunidades do orkut. Domingos Carvalho da Silva citava-a sempre por sua beleza e pela formalidade e clareza de seus poemas.
Teve dois filhos: Lupe Maria Ribeiro Lima e Marco Garaude Giannotti. 


SAUDADE

(a Guilherme de Almeida)

A saudade é o limite da presença,
estar em nós daquilo que é distante,
desejo de tocar que apenas pensa,
contorno doloroso do que era antes.

Saudade é um ser sozinho descontente
um amor contraído, não rendido,
um passado insistindo em ser presente
e a mágoa de perder no pertencido.

Saudade, irreversível tempo, espaço
da ausência, sensação em nós premente
de ser amor somente leve traço

num sonho vão de posse permanente.
Saudade, desterrada raiz, vida
que se prolonga e sabe que é perdida. 

 DE PEDRA

— Eu sou de pedra, me dizias,
a defender tua distância.

E esquecias o musgo,
essa tua epiderme de ternura,
e o teu corpo de carinhos,
num horizonte de água e terra,
a te envolver na vida.

— Eu sou de pedra — insistias.
— Pesado. Denso. Inalterável.
De estofo eterno.
Apenas estou, não sofro;
se algum gesto me ferir,
eu sou duro;
quebrarei o gesto sem sentir.

E esquecias
que és pouso de borboletas,
alicerce de flores,
abraço de raízes,
vulnerável em tudo
do que em ti pertence
e minha mão possui, acaricia.

— Eu sou de pedra.
E esquecias, esquecias.


DESTINO MINERAL

Sou feita de uma carne perecível
futuro de outra carne, sem nenhuma
eternidade. A rocha é uma invencível
parte da terra; que ela me resuma

no seu mesmo destino mineral.
A solidez ausente que tortura
nossa matéria frágil, no final
se renderá: serei de pedra dura.

Nunca mais chorarei nessa passagem
de poesia. Com nítida certeza,
recorto nas montanhas minha imagem

mais que raiz, expressa na beleza.
Pela terra em que não me desfiguro,
hei de surgir um dia em cristal puro.







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