13.4.10

Sob a abóboda, uma tonalidade âmbar,
que entra quieta pelos vitrais.
Um leve aroma de incenso,
que os dias de hoje já nem usam mais.
De joelhos, os fiés contritos;
em pé, os devotos aflitos;
sentados, os mais conformados.
Um grupo discreto murmura confiante
uma novena:
a esperança é grande,
a sorte é pequena,
só Deus que dá jeito.
Ave Maria, cabeça baixa, mão no peito,
talvez um dia.
A viúva recente, a moça carente,
o desempregado;
a mãe alarmada, a sogra injuriada,
o velho doente;
uma adolescente que quer namorado.
No ínício da esquerda, a imagem parece
sensibilizada.
Também, tanta prece...
Olhos comovidos, gestos suplicante,
aos pés uma rosa e a serpente pisada.
Lá na frente, um cristo sofrido pede penitência,
que o pecado é insistente,
o corpo é atrevido
e a gente escorrega por inconseqüência.
Depois do conforto,
o frasco de água-benta na porta da saída.
Se houver recaída, só fé que sustenta.

Flora Figueiredo
In Chão de Vento

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