19.3.10

Entre Março e Abril,

 Maroz
Que cheiro doce e fresco,
Por entre a chuva,
Me traz o sol,
Me traz o rosto,
Entre Março e Abril,
O resto que foi meu,
O único
Que foi afago e festa e primavera ?

Oh cheiro puro e som de terra !
Não das mimosas,
Que já tinham florido
No meio dos pinheiros ;
Não dos lilases,
Pois era cedo ainda para mostrarem
O coração às rosas ;
Mas das tímidas, dóceis flores

De cor difícil,
Entre limão e vinho,
Entre marfim e mel,
Abertas no canteiro, junto ao tanque.

Frésias,
Ó pura memória
De ter cantado –
Pálidas, flagrantes,
Entre chuva e sol
E chuva
- que mãos vos colhem,
Agora que estão mortas
As mãos que foram minhas ?"

Com o sopro da manhã e o aroma
das frésias eu sonhava longamente

Eugénio de Andrade
in Coração do Dia

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