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28.12.09

Mesmo vendadas adivinhas

Imagem: Pesquisa Google

À margem dos sentidos
que as mantêm cativas,
trago comigo palavras soltas
que me querem decifrar,
que lutam entre si
para me retalhar indignamente
e devassar esconderijos
que eu próprio desconheço.
Destes pássaros altruístas,
que cantam para o sol
continuamente de graça,
não fujo nem me salvo,
porque entre eles e eu
há uma certeza cravada
que se arruína mal se constrói
à deriva do não dito,
naufragando sem rumo
nas brumas do sentido.
Entretanto, em fila indiana,
o rebanho manso das palavras
vai sendo riscado
em poemas vivos de pássaros
que se desfazem
pousados nas linhas,
na mira dos contornos do retrato
que mesmo vendada adivinhas.
 

Nilson Barcelli

7.12.09

Parece que foi ontem

 Imagem: Sister Moon

 Parece que foi ontem
que nos vestíamos de fogo
para transpormos riachos
sem nos molharmos por dentro.

Ficávamos de pele encharcada e,
com a boca na brisa que em nós rebentava,
despíamo-nos ao sol
para colher o silêncio das flores
no ventre da vida.

Parece que foi ontem
que pintámos o estio na alma
para profanarmos os nossos segredos
em rios de margens intangíveis.

E, de cada vez
que o desejo se imprimia na carne,
a cor dilatava-se
em pinceladas de sussurros,
plasmados ao corpo em delírio.

Parece que foi ontem
que me deixaste
ao sabor da procura dos teus beijos,
perdido no caruncho da saudade.

Parece que foi ontem
que me tornei um mendigo
de corpo e alma perdido,
sufocando à míngua da tua brisa,
morrendo só, na memória do teu fogo.
 Nilson Barcelli